Paróquia
Paróquia Catedral: 150 anos marcados pelo espírito de comunidade
Paróquia São João Batista completa 150 anos em 2021. Comunidade começa com uma pequena capela, se vira matriz, depois Catedral. Transformações marcadas pelo espírito de comunidade
Por João Vitor Santos, jornalista mestre em Ciências da Comunicação, acadêmico e pesquisador em História e Pe. Diego Knecht, pároco;
No começo, um grupo de moradores e fazendeiros da região da Vila do São João de Monte Negro se une para constituir uma pequena comunidade, erguendo uma capelinha de taboas. Hoje, mais de 150 anos depois, diante de uma das mais duras crises da humanidade, causada pela pandemia da Covid-19, mesmo diante da necessidade de isolamento social, essa comunidade se mantém coesa, celebrando e rezando desde o sacrário da Paróquia São João Batista unidos através das transmissões das missas ao vivo pelas redes sociais. Talvez, o esforço feito pela comunidade paroquial para viabilizar, de forma muito rápida, as transmissões das missas seja muito semelhante aquele feito por antepassados que viam a necessidade de erguer um templo mais perto do Cais das Laranjeiras, vizinho ao hoje chamado Morro São João. Esse é um dos muitos motivos que todo o povo da Paróquia Catedral São João Batista tem para celebrar, mesmo em um tempo de tribulação e incertezas, os 150 an0s de trabalhos que vão desde a evangelização, Celebração da Palavra a assistência aos necessitados e reunião de grupos que mantém vivo o espírito do Cristo ressuscitado.
A pequena capelinha erguida entre as poucas casas na colina, próximo ao fim da Rua da Praia, hoje rua Dr. Flores, nasce praticamente junto com o povoado de São João do Monte Negro. Na segunda metade da década de 1850, depois de passada a Revolução Farroupilha (que vai de 1835 a 1845) Tristão José Fagundes decide lotear parte das terras que recebera como herança da família da esposa, Bernardina Maria de Araújo. A área ia mais ou menos do Cais do Porto, a partir da margem direita do Rio Caí até, numa linha reta até próximo aos morros e elevações, entre a região onde hoje ficam as localidades de Alfama e os bairros Faxinal e Imigração, tendo o cume do morro São João como limite lateral. Fagundes possivelmente decide lotear a área depois de perceber que a região se tornara rota de passagem de viajantes e contingentes de homens e tropas que lutaram na Revolução Farroupilha. É dele a iniciativa de doar um dos lotes para a construção de uma primeira capela.
Segundo os padres José Bonifácio Schmidt e Hugo Büttenbender, que recompõe a história da Paróquia em 1979, documentos da Paróquia de Bom Jesus de Triunfo, da cidade de Triunfo, da qual pertencia a região de Montenegro, registram a realização de casamentos na região do porto, que então pertencia a Fazenda Monte Negro. Para eles, a religiosidade da população local era tão forte que mesmo não podendo fazer deslocamentos até Triunfo realizam celebrações na parte mais povoada, junto ao cais do porto. Tristão e a esposa passam a viver numa casa, próximo de onde hoje é a escola Delfina Dias Ferraz, e os primeiros lotes vendidos na proximidade levam o centro do vilarejo do porto para o alto da colina. Em 1855, surgem os primeiros registros de pedidos para a construção de uma capela no vilarejo.
Nesses documentos, consta a doação do lote feito por Tristão anos antes e o comprometimento da comunidade local para a construção da capela de taboas. Essa edificação sai, mas ainda como capela da Paróquia da Triunfo, sem ter ali sequer um padre residente. Passam-se alguns anos e em 10 de setembro de 1861 é erguida a pedra fundamental para a construção de uma nova igreja, agora de alvenaria. Essa seria a que hoje conhecemos como a antiga igreja matriz, cuja base ainda está de pé, abrigando a praça que fica na frente da Catedral. Segundo relata Campos Neto, em sua pesquisa sobre Montenegro, em 1866 o vilarejo recebe a primeira imagem de São João Batista, trazida pelo bispo D. Sebastião Dias Laranjeiras. Nessa época, já haviam movimentos para a elevação do vilarejo ao grau de freguesia e como autoridades religiosa e civil ainda tinham concomitância, era importante que o vilarejo tivesse uma paróquia autônoma.
Por volta de 1870, o povoado estava em festa e comemorava a volta de moradores da região que lutavam na Guerra do Paraguai (que vai de 1864 a 1870), sob o comando do Tenente-coronel Apolinário Pereira de Moraes. Para se ter ideia do tamanho da comemoração, Campos Neto relata que na região, no alto da colina e cercanias, havia cerca de 150 construções. Ou seja, há um grande número de fiéis que não vão mais a Triunfo e a criação de uma paróquia se faz mais do que necessária.
Nessa década de 1870 ocorriam muitas disputas envolvendo o poder civil, na época o império, e a própria Igreja. Havia grupos que defendiam a separação, enquanto outros a manutenção da relação entre Estado e Igreja, que até então era quem detinha, por exemplo, registros de nascimentos, casamentos e óbitos. Assim, segundo recupera Campos Neto, em 18 de outubro de 1867 se cria Freguesia de Monte Negro. Isso se dá através de um ato do Governo da Província que, nesse contexto de disputas por poder, não consulta a autoridade eclesial que, por sua vez, não reconhece a separação e mantém o templo ainda ligado a Triunfo. Depois de idas e vindas, a autoridade eclesial reconhece a necessidade de criação de uma paróquia autônoma. Tanto Campos Neto como os padres Schmidt e Büttenbender destacam documentos que revelam a pressão da comunidade local por esse reconhecimento.
Assim, em 1871, a autoridade eclesial dá como criada a Paróquia São João Batista de Monte Negro (à época grafado dessa forma). Com isso, a comunidade, agora paroquial, poderia finalmente em solo montenegrino ministrar sacramentos como batismos de forma autônoma a Triunfo. O bispo D. Sebastião Dias Laranjeira exige uma série de elementos litúrgicos no templo e, ainda, a criação a administração de cemitério para os fiéis. Demandas plenamente atendidas pela comunidade e ainda antes do fim do ano de 1871, a Paróquia recebe seu primeiro padre, o jesuíta Miguel Kellner.
Muitos ainda guardam na lembrança a antiga Igreja Matriz, que acabou sendo demolida na década de 1960, depois que, em 1965 foi inaugurada a nova igreja matriz. Há quem lamente a destruição do antigo templo, mas fato é que tanto a antiga quando a nova são erguidas mais uma vez por esforços comunitários, já que se precisava de uma igreja maior. Hoje, nossa comunidade conta com 14 capelas em comunidades onde são celebradas missas e ministrados sacramentos como batismos e casamentos. Com um pároco, o padre Diego Knecht, e dois vigários paroquias, os padres João Vitor Freitas dos Santos e Ercílio José Bohn, a São João Batista conta com 29 grupos, pastorais e movimentos que desenvolvem ações pastorais, que reúnem desde crianças a idosos em encontros com momentos de oração, reflexão e celebração.
Além disso, a Igreja, desde 2 de julho de 2008 é também sede da Diocese de Montenegro. Ou seja, o templo deixa de ser denominado Igreja Matriz da Paróquia e passa a ser a Catedral da Diocese. Por isso hoje recebe a denominação Paróquia Catedral São João Batista. Assim, além de manter viva a antiga comunidade que lutou pela construção da capelinha de taboas no desejo de ver o tempo revitalizado para acolher fieis de toda a Diocese. Hoje, as obras estão 80% concluídas. No entanto, mais do que lembrar esses esforços materiais, é importante destacar as ações para manter a comunidade unidade. É o que faz com que, mesmo em tempos de pandemia, estejamos juntos em oração por todos aqueles que fazem, fizeram e outras tantas gerações que farão a nossa comunidade paroquial. Parabéns a todos nós e que consigamos manter a Igreja sempre viva na comunidade da Paróquia Catedral São João Batista em atos, ações, orações e celebrações.
Referências
CAMPOS NETTO, José Cândido de. MONTENEGRO. Reeditado em 2014. Montenegro: Irmãos Gehlen, 1924.
SCHMIDT, José Bonifácio e BÜTTENBENDER, Hugo. História da Igreja Católica Apostólica Romana em Montenegro. In: KAUTZMANN, Maria Eunice Müller (org). Montenegro de Ontem e de Hoje. Vol I. São Leopoldo: Rotermund, 1979.
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