Deus é o culpado?

Por que o Rio Grande do Sul vive este tempo dramático de enchentes, deslizamentos e tanto sofrimento? Tenho sido questionado se é um “recado de Deus” para nós. Vi, para minha tristeza, até padre dizendo que isso está acontecendo porque “Deus quer o RS de joelhos”. Vamos com calma. Tentemos clarear algumas coisas e não demos a culpa da catástrofe para Deus.
 
Sugiro ler os capítulos 6 a 9 do livro do Gênesis. É a história do Dilúvio. Interessam-nos aqui os versículos 14 e 15 do capítulo 9: “Quando eu cobrir de nuvens a terra, aparecerá o meu arco nas nuvens, e me lembrarei da aliança que firmei entre mim e vós e todo ser vivo de toda a carne, e as águas não mais se transformarão em dilúvio para destruir toda a carne”. Deus promete não mais servir-se de dilúvios para tentar exterminar o mal do mundo. Deus sabe que raramente aprendemos pela dor. Quando passa a crise, nós voltamos a viver como antes: consumindo desenfreadamente, produzindo resíduos (lixo) que não acabam mais, desrespeitando os limites da natureza em nome do “necessário” crescimento econômico.
 
Quando somos terrivelmente surpreendidos pelos eventos climáticos sem precedentes ficamos sem resposta. Não sabemos exatamente porque isso acontece. Possivelmente não há uma única causa, mas um somatório de fatores. O que não podemos é usar interpretações simplistas para o fato.
 
Eu não acredito num Deus que destrua a sua própria criação, mate pessoas, traumatize criança, gere fome, sede e medo entre seus filhos e filhas. Decididamente, não! Deus é Pai, Deus é amor, Deus é bondade. Ele não é o culpado daquilo que está acontecendo.
Eu vejo Deus presente em meio a esta destruição. Ele sofre com cada uma das pessoas atingidas. Ele é a força dos sobreviventes, dos desalojados. Ele é a motivação dos voluntários e dos que atuam na linha de frente no resgate e assistência às vítimas. Ele é a caridade que anima tantos grupos – religiosos ou não – a se organizarem para ajudar. No meio da dor Deus caminha conosco.
 
Nós podemos tirar lições de tudo o que está acontecendo, sim. A natureza nos impõe limites, mesmo que não queiramos aceitar. Temos um estilo de vida perigoso, pois o consumo-descarte é exagerado. Precisamos rever muita coisa. Podem ser tiradas lições em meio à dor. Mas, cuidado: não digas que Deus mandou esta tragédia para nos dar lições. A tragédia aconteceu. E nós podemos aprender algo dela.
 
Nós estamos vivos e, por isso, vamos reconstruir. É difícil, é sofrido, é trabalhoso, é lento. Somos mais fortes do pensamos. Como disse dom Leomar Brustolin, “em meio a tanta escuridão, algumas pessoas brilham como estrelas de solidariedade”. Que Deus nos acompanhe, dê força e paciência!
 
 
Pe. Eduardo Luís Haas