Pe. Eduardo Luís Haas

Esperança!

As situações-limite, como a enchente que vivemos, revelam o que há de melhor e o que há de pior em cada ser humano. Não tenho dúvidas de que vale seguir acreditando no ser humano, pois temos visto uma rede de ajuda criada em poucos dias que é impressionante! Quanto bem é feito gratuita e generosamente.

Há, ao lado de tanta bondade e generosidade, a maldade humana. Há quem aproveite para subir preços abusivamente, há quem desvie dinheiro e itens para a doação, há quem saqueie casas dos desabrigados. E há coisas de outra ordem, como aproveitar o socorro humanitário para se autopromover, gastar tempo em brigas de vaidades pessoais. Tudo isso é humano, e não deve nos surpreender nem desanimar.

Este tempo difícil “puxou o nosso tapete”, tirou nossa perspectiva de futuro. Tudo mudou. Olhamos diferente agora para o futuro. Nada está tão certo assim. Pode vir uma enxurrada e mudar nossos planos. Pode deslizar terra e condenar nossa casa. Pode ruir uma ponte e nos deixar ilhados. Para quem foi mais atingido pelas cheias e deslizamentos, como recomeçar? Onde buscar força? Aqui entra uma palavra muito importante: esperança.

Cuidado para não confundir esperança com otimismo, ilusão, autoengano. Esperança é uma virtude (força) que aponta para o futuro. A esperança nasce de um encontro, de uma promessa, de uma chegada. Há alguém que nos espera, por isso podemos ter esperança. Há alguém que nos estimou, por isso temos autoestima. Só é capaz de amar quem já se sentiu amado.

Assim, ter alguém que me ajude na hora do desespero é o que faz nascer a esperança. Atenção, voluntários: vocês não vão conseguir restituir tudo às vítimas das enchentes. Tão necessária quanto a comida é a esperança. Escutem as pessoas, acolham o seu choro e o seu lamento. E digam apenas: “estou contigo”, “obrigado por me dizer o que sentes”. Evitem frases otimistas como: “tudo vai passar”, “vamos conseguir tudo novo para tua casa”, “tu és forte e vais reconstruir”. Esperança não é o otimismo ansioso de quem quer deixar a dor para trás. É fundamental acolher a dor do outro. Mostrem proximidade, atenção, um pouco de afeto. Lembrem: ter alguém que nos espera é o que nos faz ter esperança.

Para quem tem fé, a esperança tem uma dimensão mais profunda, teologal. Ela é uma virtude dada por Deus. Ele é a razão da nossa esperança, é Ele quem nos ama, quem nos espera, quem nos estima. E a esperança que vem da fé em Jesus Cristo aponta para a eternidade: nem a morte nos roubará a esperança. Leiam a Carta de Paulo aos Romanos, capítulo 8, versículos 35 ao 39. E cuida para não cair no desespero. Sem esperança a vida torna-se um inferno.

 

Por: Pe. Eduardo Luís Haas