“A quem iremos Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68)

21º Domingo Tempo Comum – Ano B: Josué 24,1-2ª.15-17.18b; Salmo 33(34); Efésios 5,21-32; João 6,60-69.

A Liturgia deste domingo nos convida a uma compreensão mais aprofundada, a um amadurecimento na nossa relação com Cristo. A um aprofundamento da nossa compreensão de nossa participação na Eucaristia.

Este é o quinto domingo que estamos meditando o capítulo seis do Evangelho de João, o discurso do pão da vida. Acompanhando este longo capítulo seis, percebemos que a incompreensão sobre a pessoa de Jesus, começa com a multidão, passa pelos discípulos, mas atinge também os Doze Apóstolos. Esta incompreensão se revela como murmuração. O ápice se dá no momento em que Jesus diz aos Doze: “Vós também quereis ir embora?” (Jo 6,67). Esta pergunta provoca a profissão de fé do Apóstolo Pedro: “A quem iremos Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).

A primeira leitura já nos acenava para esta opção decisiva, quando Josué questiona o povo: “Se não vos agrada servir o Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se os deuses que os vossos pais serviram no outro lado do rio, se os deuses dos amorreus em cuja terra habitais” (Js 24,15). Mas o próprio Josué, como líder, conduzindo o povo, diz: “mas eu e minha casa serviremos o Senhor” (Js 24,15). Esta liderança, agora no Evangelho, aparece na figura do Apóstolo Pedro, que responde em nome dos apóstolos e, responde em nosso nome: “A quem iremos Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).

Todos nós, no seguimento de Cristo também chegamos a uma encruzilhada. Chegamos ao pé da cruz, onde temos que professar a fé. Em cada Eucaristia, nós estamos na Última Ceia e no Calvário: “Isto é o meu Corpo entregue por vós; isto é o meu Sangue derramado por vós”. Nós comungamos a pessoa de Cristo, a paixão e ressurreição de Cristo. Comungar significa acolher em nós o ‘pensamento’ de Cristo de Cristo, como diz Paulo, “nós, todavia, temos o pensamento de Cristo” (1Cor 2,16b). Também o Apóstolo Paulo nos diz: “Tende entre vós os mesmos sentimentos que haviam em Cristo Jesus” (Fl 2,5). Em cada Eucaristia somos mergulhados neste ‘Mistério da Fé’ e respondemos: “Anunciamos Senhor a vossa morte, proclamamos vossa Ressurreição. Vinde Senhor Jesus!”.

Na Missa deste domingo, pedimos na Oração da Coleta: “Concedei ao vosso povo amar o que ordenais, para que, na instabilidade deste mundo, nossos corações estejam ancorados, lá onde se encontram as verdadeiras alegrias”. Passando pelo povo no deserto; pelas multidões que querem pão; pelos discípulos e apóstolos que murmuram; e agora por nós discípulos e discípulas do século XXI, precisamos nos perguntar: Onde está ancorado o nosso coração? Se faz necessário, escutar o próprio Senhor: “Vós também quereis ir embora?” (Jo 6,67). Para que com renovado ardor possamos responder em comunidade: “A quem iremos Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).

Em cada Eucaristia experimentamos a alegria do encontro com o Senhor: pela comunhão fraterna, expressa no encontro dos irmãos e irmãs; pela proclamação da Palavra, que nos alimenta e faz ‘arder o nosso coração’; pela Fração do Pão, a Eucaristia, quando nossos olhos se abrem e somos transfigurados no Cristo Ressuscitado; e, pelo envio, quando já não vamos sozinhos, mas com o Senhor Ressuscitado: “Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe!”.

+ Dom Carlos Romulo – Bispo Diocesano de Montenegro

 

Conteúdos anteriores: