Todos sentimos a escassez do tempo. Falta tempo, sobrecarga de trabalho, excesso de tarefas para além do trabalho, vontade de fazer muitas coisas que não cabem na agenda. Sentimos o tempo escapando por entre os dedos. Há alguma coisa para fazer para mudar isso?
O tempo é, cronologicamente, sempre igual: cada hora tem 60 minutos, cada dia tem 24 horas. E todas as pessoas têm o mesmo tempo. É comum dizer: “pede para aquela pessoa, ela tem mais tempo do que eu!”. Na verdade, não. Claro, há pessoas que assumem mais atividades do que outras pessoas e, assim, se sentem com “menos tempo”.
A primeira atitude importante é escolher bem em que queremos gastar, consumir, investir, dedicar ou até vender o nosso tempo. Hoje, está em jogo o debate sobre a jornada de trabalho. Não sou especialista neste assunto, mas penso que em muitas situações, sim, o trabalho toma tempo demais da nossa vida. Nós nos deixamos facilmente levar pelo desejo consumista de ter sempre mais e, para isso, precisamos trabalhar sempre mais. Conheço algumas pessoas que colocam limites a isso, optam por um estilo de vida mais sóbrio e procuram viver outra relação com o tempo e com o trabalho.
“Em muitas situações, sim, o trabalho toma tempo demais da nossa vida. Nós nos deixamos facilmente levar pelo desejo consumista de ter sempre mais e, para isso, precisamos trabalhar sempre mais”.
Além disso, é importante definir prioridades na gestão do tempo: quanto vou dedicar para mim (atividade física, descanso, lazer, leitura, oração-meditação, cultivo de amizades)? Não cuidar de si é um péssimo começo para a gestão do tempo. Essa é minha primeira prioridade, pois se eu não estiver bem, não posso ajudar ninguém. Claro que há dias e tempos em que isso é relativizado. Mas, não devemos nos esgotar. Um dia entramos em colapso e o mundo não vai parar para nos socorrer. Seremos só mais um que “não aguentou”.
“Não devemos nos esgotar. Um dia entramos em colapso e o mundo não vai parar para nos socorrer. Seremos só mais um que ‘não aguentou’”.
Um exercício que tento fazer – e ainda não consigo executar muito, confesso – é procurar estar presente naquilo que estou fazendo. Por exemplo, se estou almoçando, procurar focar na comida que está à minha frente e nas pessoas que estão comigo. Nossa tentação é almoçar pensando no que teremos à tarde; trabalhamos pensando no que teremos que fazer ao final do dia e assim por diante. Isso só aumenta a ansiedade e a sensação de falta de tempo.
Outro aspecto que aumenta a nossa sensação de falta de tempo é a conexão com as redes sociais e o excesso de informações. Eu estou aqui, fazendo minhas tarefas. Aí, vou dar uma espiada nas redes sociais e vejo o que os outros estão fazendo. Começo a me dar conta de quanta outra coisa eu poderia fazer e meu sentimento de estar devendo coisas a serem feitas aumenta. Procuremos viver a nossa vida, sem nos comparar com as rotinas dos outros.
“Procuremos viver a nossa vida, sem nos comparar com as rotinas dos outros”.
Retiro
Termino a crônica compartilhando com vocês que esta semana, de 12 a 16 de maio, os padres da Diocese de Montenegro realizam o nosso Retiro Anual. Fazemos o esforço, pessoal e coletivo de sair das nossas rotinas e, juntos, dedicar estes dias à oração, ao silêncio, à convivência e ao descanso. É uma graça muito especial poder viver um retiro assim. E não é perda de tempo. Ele nos ajuda a servir melhor na missão que recebemos. É um grande desafio guardar tempo para nós e para confrontar-nos com nossa vida, com nossas escolhas. E tu, encontras tempo para ti?
Pe. Eduardo Haas
Paróquia Cristo Redentor - Tupandi