“Então, lembram-se de que Deus é o seu rochedo, que o Deus Altíssimo é o seu redentor” (Sl 78,35)
O presbitério de Montenegro, ou seja, os padres de nossa Diocese, realizou seu retiro anual de 12 a 16 de maio de 2025, sob a orientação de Dom Paulo Jackson, Arcebispo de Olinda e Recife. Mas, não estávamos sozinhos, pois tínhamos a certeza de que éramos acompanhados de fervorosa oração de toda a nossa comunidade.
O retiro é um tempo de memória, de refrescar a memória. Mas, o que fazemos num retiro? Nos retiramos das atividades cotidianas; nos reunimos num mesmo lugar; e nos enxergamos como presbitério, como padres, que se congrega como discípulos do Mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Um dia, cada presbítero, no seu tempo, num determinado lugar, foi chamado pelo Senhor. E num percurso longo e, muitas vezes, trabalhoso, foi sendo lapidado para que um dia, numa bela celebração, com o seu bispo, o clero diocesano e toda comunidade, pudesse dar o seu sim generoso e público. Tudo para que, dessa forma, fosse apresentado e enviado em missão, como presbítero, configurado sacramentalmente ao Senhor. A partir daquele dia, aquele homem, aquele discípulo, aquele padre, é colocado no serviço do Senhor, ou na ‘vinha do Senhor’, como dizemos.
O tempo passa, os anos correm, e, neste desenrolar, experimentamos alegrias, tristezas, vitórias e fracassos. No coração, podem se acumular medos e angústias, outros medos e desânimos. Por isso, a tradição da Igreja nos presenteia com a sabedoria de um retiro anual. Um tempo de parada diante Daquele que um dia nos chamou e sempre caminhou ao nosso lado. Mas, muitas vezes, pela correria, pelo desgaste cotidiano, ficamos desconfigurados e até vamos perdendo a memória de tão grande graça que cada um carrega, que cada um é e de sua vocação e missão.
Por isso, o retiro é uma pausa no tempo cronológico. Assim, podemos experimentar o tempo de Deus, que é o kairós, um tempo qualificado, tempo medido pelo olhar do Pai sobre cada um de nós.
Depois do retiro, o que permanece? Permanece a memória reavivada. Não vamos viver em permanente retiro, mas levamos convosco o sabor da experiência, que pode modelar o nosso cotidiano; que pode dar sentido a cada ação pastoral, na urgência do dia a dia, onde somos chamados a dar testemunho do Senhor Ressuscitado.
Guardemos, como um tesouro, aquilo que o Senhor nos revelou quando nós Lhe permitimos intervir no tempo, na nossa vida, em nossa caminhada. Assim, fortalecidos na esperança por esta nossa experiência em retiro, seguimos junto de nossas comunidades como verdadeiros peregrinos de esperança.
+ Dom Carlos Romulo
Bispo diocesano de Montenegro