Reflexão

Crônicas Pastorais: as surpresas do amor que se revela

“Meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive” (Eclo 3,14).
 
Comecei este ano de 2025 acrescentando em minha missão pastoral o cuidado com meu pai, que se encontra fragilizado pela idade e por enfermidades. Na prática cotidiana, significa estar sempre atento às necessidades dele e, em muitos momentos, estar presente fisicamente no hospital e auxiliando nas atividades de cuidado, além da presença afetiva. Ações importantes, mas que, por vezes, me tiram a presença física no trabalho mais cotidiano em nossa Diocese.
 
Esta é uma situação comum a muitas famílias, o que me faz sentir em profunda comunhão com a realidade de todo o rebanho do Senhor. Num primeiro momento, temos a sensação de descontrole, de não conseguir levar adiante e executar um planejamento. É algo diferente do que estamos acostumados no nosso dia-a-dia, onde criamos listas de tarefas e buscar as seguir com à risca.
 
Quando comecei esta nova missão, percebi, primeiramente, a colaboração do paciente, o desejo de recuperação, a vontade de viver. Mas, logo percebemos também que no hospital existe uma rede de pessoas que se realizam profissionalmente no serviço ao outro. Vemos nas mãos, no olhar, no cuidado as marcas samaritanas do Senhor que sempre nos cuida. Diante destes profissionais, vemos materializado o amor de Jesus no cuidado e proteção neste momento de fragilidade física e, muitas vezes, emocional.
 
Neste mesmo contexto, acolho como gratidão o cuidado de tantos irmãos e irmãs que revelam o seu lado mais belo, o do apoio e solidariedade. Tal cuidado aparece, inclusive, na necessidade de estar distante dos compromissos pastorais na Diocese, sendo levado até a remarcar atividades importantes. Vejo este carinho e cuidado também na ajuda de familiares e amigos a amigas que não medem esforços em servir com alegria a necessidade de nossa família neste momento.
 
Estou vivendo esta etapa da minha existência, da minha vida cristã e ministério pastoral, como um tempo de evangelização dos meus afetos. Acolho os acontecimentos imprevistos como kairós, como revelação de Deus que sempre abre novos horizontes na nossa experiência de fé.
 
Senhor, daqui do hospital, eu te apresento todos os enfermos e todos os cuidadores para que sempre descubram o Rosto misericordioso do cuidado do Amor de Deus. Agradeço, ainda, todas as orações. Sejamos fortes e tenhamos coragem diante da missão que Deus nos apresenta.
 
+Dom Carlos Romulo
Bispo da Diocese de Montenegro
 
** A imagem que ilustra o artigo de D. Carlos é "A Menina Doente", do artista norueguês Edvard Munch (1863–1944), em que retrata o cuidado a sua irmã mais velha Johanne Sophie (1862–1877)