Reflexão

Vinde, Espírito Santo! E renovai a face da terra

Pentecostes é uma das festas mais significativas da vida cristã, celebrada cinquenta dias após a Páscoa. O próprio nome "Pentecostes" vem do grego pentēkostē, que significa “quinquagésimo”, pois ocorre exatamente cinquenta dias após a Ressurreição do Senhor. Esse número simbólico marca a plenitude do tempo pascal: após sete semanas da Páscoa, a alegria da vitória de Cristo se desdobra no dom do Espírito Santo, que desce sobre os apóstolos e Maria no Cenáculo (At 2,1-4), dando origem à Igreja. É o início de uma nova etapa: o tempo da missão, da coragem e do fogo do Espírito que transforma o medo em anúncio, e a dúvida em fé viva.
 
Antes de subir ao Pai, Jesus havia prometido aos discípulos: “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará um outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre” (Jo 14,16). Essa promessa se cumpre plenamente em Pentecostes, quando o Espírito Santo é derramado sobre a Igreja nascente, dando início a um novo tempo na história da salvação.
 
Originalmente, Pentecostes era uma festa judaica, conhecida como “Festa das Semanas” (Shavuot), que celebrava a colheita e a entrega da Lei a Moisés no Monte Sinai (Ex 19). No entanto, com o evento cristão, essa festa assume um novo significado: agora, é a Lei do Espírito que é dada, não escrita em tábuas de pedra, mas no coração dos discípulos, como cumprimento da promessa de uma nova aliança.
 
Pentecostes inaugura, assim, o tempo do Espírito Santo na história da salvação. É o Espírito quem impulsiona a missão da Igreja, fortalece os fiéis, distribui dons e carismas, e mantém viva a memória e a presença de Cristo. Os apóstolos, antes amedrontados, saem cheios de coragem para anunciar o Evangelho, falando em diversas línguas, sinal de que a Boa Nova é destinada a todos os povos e culturas.
 
Na caminhada da Igreja ao longo dos séculos, Pentecostes foi sempre lembrado como tempo de renovação. O Espírito Santo não se limita a um evento passado, mas continua agindo no presente, suscitando movimentos, vocações, reformas e novos caminhos de evangelização. Onde há vida, dinamismo e unidade, ali está o Espírito operando silenciosamente.
 
Paráclito
 
Biblicamente, o Espírito Santo é apresentado como o “Paráclito”, aquele que consola, guia, ensina e dá força (Jo 14,16). Ele não age apenas de forma extraordinária, mas sobretudo na simplicidade do cotidiano, nos frutos que gera em quem se abre à sua ação: amor, alegria, paz, paciência, bondade, fidelidade (Gl 5,22). É Ele que forma corações novos e comunidades vivas.
 
Na celebração da Missa de Pentecostes, a Igreja inclui a belíssima "Sequência de Pentecostes", também conhecida como Veni, Sancte Spiritus (“Vinde, Espírito Santo”). Esse hino litúrgico, de origem medieval, é uma profunda oração ao Espírito, pedindo que Ele venha como luz, consolo, refúgio, fonte de paz e força nas tribulações. Suas palavras tocam o coração e convidam os fiéis a se abrirem à ação do Espírito, reconhecendo-o como aquele que transforma a vida desde o íntimo da alma.
 
Pentecostes em nosso tempo
 
Nos dias de hoje, marcados por desafios, divisões e incertezas, Pentecostes recorda aos fiéis que não estão sozinhos. O mesmo Espírito que desceu há mais de dois mil anos continua presente, sustentando a Igreja e guiando cada batizado.
Por isso, neste próximo domingo, todas as comunidades são chamadas a celebrar com alegria e entusiasmo a Solenidade de Pentecostes, deixando-se renovar pelo Espírito Santo. Que essa celebração não seja apenas uma data litúrgica, mas uma verdadeira experiência de fé, de unidade e de missão. Que o Espírito reacenda nos corações a esperança de um mundo melhor, mais fraterno e cheio da presença de Deus.
Vinde, Espírito Santo, e renovai a face da terra!
 
Ramon Silveira dos Santos
Seminarista - Seminário Maior São João Batista
 
** A imagem que ilustra o artigo é denominada "Pentecostes no Cenáculo de Maria"

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